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Posts Tagged ‘Francelino Pereira’

18.08.2010

Acaba de me ligar Francelino Pereira, que foi governador de Minas e sobretudo senador, lider do governo Geisel, quando lançou  a frase: QUE PAIS É ESTE?  que continua a repercutir até hoje. Ele me diz que está escrevendo um texto historiando o surgimento da frase. Já encontrou até referências em textos do Pedro Nava. Isto mexeu com minha memória. Fui à estante e desenterrei “Cadernos 1 e 2 ” de Pedro Nava, (Ateliê Editorial) e redescubro que quando o poema foi publicado em 1980 no Jornal do Brasil, Nava o recolheu dentro de um envelope  com a seguinte anotação:

“O fabuloso poema de Afonso “Romano de Sant’Anna”.
E não é que havia me esquecido disto?…

Francelino me pergunta em que texto de Machado de Assis a mesma pergunta estaria. Passo-lhe a informação que Leticia Mallard me deu:

“Em que tempo estamos? Que país é este? Pois um funcionário público, elevado às primeiras posições, – não para satisfação da vaidade, mas para servir ao país – responde daquele modo a uma intimação grave?”_Machado de Assis-. Crônicas, v. 2. Rio de Janeiro-São Paulo-Porto Alegre: W. M. Jackson, 1944.

Ele me conta, se divertindo, que um outro político lhe dizia:

“Imagine, fiz milhares de discursos em mais de 30 anos de vida pública, e você com uma única frase entrou para a história!” 

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29.04.2010

Este o histórico depoimento que acaba de me enviar Francelino Pereira, o líder do governo Geisel, que ao exclamar QUE PAÍS É ESTE? nos longíquos anos 70, desencadeou uma série de respostas e perplexidades que perduram até hoje. Leiam:


Que país é este?


Francelino Pereira
(da Academia Mineira de Letras -2003)

O jornalista, poeta e crítico Affonso Romano de Sant`Anna, intelectual sempre sintonizado com o seu tempo, certo dia foi tocado, nos jornais e revistas, por uma frase -sintética e interrogativa – com a qual expressei a minha surpresa perante o plenário do antigo prédio da Câmara Municipal de São Paulo, que duvidava da palavra, dos objetivos e do compromisso do então presidente Ernesto Geisel com o processo de abertura política, em curso naquele momento.
Eu vinha do Sul, falando aos gaúchos, paranaenses e catarinenses, na expectativa de participar de uma grande concentração política agendada, com a nossa presença na capital paulista. Cheguei entre abraços e aplausos do plenário e das galerias lotadas.
No curso dos debates, a restrição ao calendário eleitoral do nosso partido que tinha, sabidamente, a iniciativa do presidente da república para o retorno do nosso país à plena democracia. Era preciso mais, desde logo, especificamente do apoio do poder central aos estados e municípios.
Que país é este? indaguei, manifestando a estranheza, natural do presidente nacional de um partido político que estava inteiramente dedicado a viabilizar a transição pacífica para a democracia.
“Que país é este, no qual as pessoas não confiam na firme vontade política do presidente da República de levar adiante a decisão amadurecida e consistente de dar continuidade à plena redemocratização?”.
Era esse o inteiro significado das minhas palavras, mas o nosso jornalista, que é também poeta politicamente engajado e, portanto, intérprete do mais profundo sentimento nacional, captou naquela simples interrogação um conteúdo muito mais amplo. E, partindo daí, escreveu um poema que traduz, até hoje, a perplexidade dos brasileiros diante dos imensos desafios sociais, econômicos, políticos, culturais e éticos que temos enfrentado durante décadas.
Avançamos muito, desde o momento em que a frase foi pronunciada e transformada em poema que podemos classificar hoje, sem hesitação, como imortal. Tão imortal quanto a pedra no caminho de Drummond ou a terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa.
Hoje, como sempre, sinto orgulho de ter sido o detonador involuntário do processo criativo que deu origem ao belo poema de Affonso Romano quanto de haver participado daqueles momentos decisivos na História do nosso país.
Representando Minas, cada um de nós contribuiu, da sua maneira, para a conciliação nacional e a compreensão de que o Brasil – como aliado da paz e concórdia – é muito maior do que as suas próprias complexidades e dissensões internas.
Saúdo, com grande alegria, o relançamento em livro do poema de Affonso Romano, porque a atual e as futuras gerações encontrarão nele não só o retrato de um momento, mas também o perfil de uma grande nação, que soube e sempre saberá responder às suas próprias dúvidas e caminhar com os seus próprios pés, por maiores que sejam os obstáculos.

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